domingo, agosto 14, 2005

Aqui abro um parêntese na narrativa de Norma, para fazer uma pequena digressão sobre o caráter do homem. Quando Sicrano ouve dizer que Fulana está indo pra cama com Beltrano acha logo que Fulana pode ir pra cama com ele. Essa é uma presunção das mais falsas, desde que seria preciso que Fulano pagasse a Fulana o mesmo que Beltrano; ou então que para Fulana Sicrano lesse, como Beltrano, os poetas; ou então que Sicrano pudesse arranjar para Fulana o emprego público que beltrano prometeu; ou então que Sicrano desse a Fulana os graus que beltrano lhe dará para passar nos exames; ou então que Fulana sentisse por Sicrano a mesma atração física que por beltrano; ou então que, como beltrano, Sicrano tivesse sido companheiro de viagem transatlântica de Fulana; ou então que Sicrano, como beltrano, tivesse tocado piano para Fulana; ou então que Fulana, da sua janela, fosse vista por Sicrano como por beltrano; ou então que Fulana tivesse sido de Sicrano a cliente que foi de beltrano; ou então que, tal como Beltrano, Sicrano pudesse ler a palma da mão de Fulana; ou então que apresentasse Sicrano a Fulana, como Beltrano, um olho azul e outro castanho; ou então que Sicrano, a maneira de Beltrano, pretendesse não gostar de Fulana.
(Relatório de Carlos, Rubem Fonseca)

2 comentários:

Anônimo disse...

mais quem é essa fulana risos
massa muito legal mesmo ainda bem que vc voltou a postar

Anônimo disse...

Qual não foi minha surpresa ao "googlear": "fulano, beltrano sicrano, Rubem Fonseca" e me deparar com esse bolg... desde a primeira vez que li esse trecho de "O relatório de Carlos" fiquei encantado e cada vez mais convicto da genialidade deste autor. Meu livro "Os 64 melhores contos" está emprestado, e eu queria ler esse trecho novamente. Não cansa, é arte. Parabéns pelo bom gosto!!

Gabriel Chermont Sapia