segunda-feira, agosto 08, 2005

Mulher desbocada

Ensaio várias vezes a ligação, mas o que dizer? Recaída? A vontade é de dizer: “Pronto, já aprendi. Agora pode voltar ao normal? Quero minha vida de volta”. Percebo que prefiro a dor conhecida. Ela mandou-me arriscar, disse que o desconhecido traz grandes surpresas.

Sou muito racional, não consigo entrar no clima, não é um momento especial. Foda-se aprender com o diferente. É conviver com o inferior e me sinto mal por pensar assim.

“As músicas eletrônicas servem para invocar o demônio. O ecstasy ajuda no transe”. Minha vontade é de gritar que demoníaca é toda essa coisa ridícula. Pau no cu de Renascença! De danças circulares. Divindade é subjetiva!

Ok. Não serei ridícula sozinha. As apresentações já começaram. Constrangimento coletivo. Caralho, isso não é arte. A estética é a ética da existência. A estética é a ética da existência. Eis meu novo mantra.

Meu telefone podia tocar. Alguém me chamando para almoçar. Correria sem dúvida (e com alívio). Preciso de uma desculpa para fugir daqui, mas não basta fugir, quero ir ao encontro de alguém bom. Porque a estética é a ética da existência.

Citaram Rubem Alves. Nada mais apropriado. Agora resta esperar a música. Falar inglês com sotaque americano é podre. Falar inglês com sotaque americano em Power Point dispensa comentários.

Chegou: Raul Seixas. Depois de one, two, three (com sotaque) todos cantam e dançam “eu sou o medo do fraco...”. Sem surpresas. Apropriar-se de Nietzsche, Raul, Lispector, Meireles é típico.

Meu telefone tocou. Não era quem eu queria. Não que eu quisesse alguém especificamente. Ótimo pretexto para ligar. Teclo os números, lembro do prazer desconhecido e desligo. Palmas para Carola!

Finalmente um bom trabalho. Aposto que o único. Infelizmente estou tão irritada que não presto atenção.

Perguntam para ela se estou contrariada ou se sou sempre séria desse jeito. Ela responde que sou séria e eu aviso que não vou cantar, pintar-me ou dançar.

Enquanto fala penso que com sua cor, voz, brincos e mistério, ele me atrai. O rastazinho maluco tem razão, não sou sexy.

2 comentários:

Anônimo disse...

sofrer sempre é melhoor mesmo vc tem toda razão.
eu me despeço
ciao

Anônimo disse...

eu queria entender isso tudo que se passa contigo...