segunda-feira, agosto 22, 2005

Castrações ou o fracasso do Ginkgo Biloba

São quase nove horas. Não consigo estudar. Tenho um sobressalto com cada barulho vindo da rua. Será que ele não vem? Gostaria que viesse. Não quero procurá-lo novamente mas adoraria sua presença. Me sinto tão fraca. Sei que não há tesouras, ferimentos ou anéis que me mantenham afastada daquele telefone por muito tempo.
E como será que ela está?

GEORGE: Essa oportunidade acontece uma vez por mês, Martha! Já me acostumei a isso...Uma vez por mês, temos Martha, a incompreendida, amenina de bom coração sob a casca grossa, a pequena fada que um toque de gentileza fez de novo florescer. E eu acreditei nisso tudo mais vezes do que quero recordar, porque detesto pensar que tenha sido tão idiota. Mas agora já não acredito mais em você, Martha... simplesmente, não acredito. Não há possibilidade alguma de que possamos... nem por um momento... voltar a estar unidos.
MARTHA (agressiva): Bem, talvez tenhas razão, querido. Ninguém se pode unir a nada... e tu és nada! SNAP! A mola saltou essa noite na festa de papai. (Com intenso desprezo mas há também fúria e desorientação latentes) Eu estava sentada, na festa do papai, e observava-te... observava-te ali sentado... e olhava para os homens mais jovens à sua volta, homens que se preparavam para ser alguém. E eu ali sentada, observando-te, e... de repente, descobri que tu já eras! Nesse momento, a mola saltou, SNAP! Finalmente saltou! E agora vou gritar aos quatro ventos, vou berrar, uivar, e não estou ligando para o que faças ou deixes de fazer. E vou provocar a mais estrondosa explosão que jamais se ouviu.
(Albee, Edward. Quem tem medo de Virginia Woolf? In: Watzlawick, Paul e col. Pragmática da Comunicação Humana. São Paulo: Cultrix, 1980)

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