quinta-feira, agosto 04, 2005

Onze de maio

Estou sentado no pátio com Baldomero e um sujeito chamado Pharoux, que foi policial. Pharoux não tem um olho, perdido num distúrbio de rua, segundo consta. É um homem de poucas palavras, desconfiado, magro, de rosto vincado por fundas rugas. O olho que lhe falta está tapado por uma venda negra. Parece pirata de novela, tenho vontade de lhe dizer isso, mas sei que ele não tem senso de humor e calo-me.
Do lugar onde estou vejo a chaminé do forno de lixo, jogando fumaça para o ar. A fumaça é negra. Que lixo será que eles queimam? Restos de comida, papéis sujos? A fumaça fica branca.
Acabaram de escolher um novo papa, digo.
Pharoux me olha sério. Rio, mas ele continua sério. Um homem de personalidade forte e maus bofes.

(Rubem Fonseca, O Cobrador. Rio de Janeiro: Nova fronteira, 1979)

2 comentários:

Anônimo disse...

Eu preciso voltar a lerrrr...

Anônimo disse...

eu gostei ...